Resenha crítica do texto "O campo musical em expansão", de Lucia Santaella, por Marcus Carvalheiro

Resenha Crítica
Autor da Resenha:
Marcus Carvalheiro
Referência do Texto:
SANTAELLA, Lucia. O Campo musical em expansão. In: Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora, Visual, Verbal. São Paulo: Iluminuras, 2005, pp. 81-96.
Palavras-chaves (3):
Música; linguagem; estética/técnica.
Desenvolvimento do Texto:
       Em O Campo Musical em Expansão, Lúcia Santaella busca elucidar esta transição de percepção da arte no mundo contemporâneo levando em consideração os aspectos estéticos e técnicos da música. O texto faz parte do importante livro Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora, Visual, Verbal, Santaella aprofunda estudos desenvolvidos por Charles Peirce. Após apresentar de forma densa a teoria das três principais matrizes da linguagem e pensamento de Peirce (sonora, visual e verbal) nos dois primeiros capítulos, Santaella aborda (podemos dizer que até de forma poética) a expansão da música e os limites para tratá-la apenas a partir da classificação em ritmo, melodia e harmonia. A autora trabalha em torno de “nove modos de ouvir”. Estas nove subdivisões são feitas a partir de três grandes níveis retirados do livro “O que é música”, de J.J. Moraes. São eles: (1) ouvir emotivamente, (2) ouvir com o corpo e (3) ouvir intelectualmente. Apesar de Santaella explicar que estes níveis se entrelaçam e são inseparáveis, a autora chama atenção para o fato do mundo contemporâneo e das novas tecnologias nos proporcionarem novas formas de ouvir, ou pelo menos, formas mais detalhadas de especificar estas experiências.

                               Ouvir emotivamente corresponde ao primeiro efeito que a música está apta a produzir no ouvinte. Ouvir com o corpo entra em correspondência com o interpretante energético, visto que este diz respeito a um certo tipo de ação que é executada no ato de recepção de um signo. Ouvir intelectualmente significa incorporar princípios lógicos que guiam a recepção da música” (SANTAELLA, 2005, p. 82)

         A partir destes conceitos, Santaella subdivide os grandes níveis de Moraes em nove modalidades, sendo as primeiras do campo emotivo: (1.1) Qualidade de Sentir, em que a situação do ouvinte é um “instante fugido” ou “um sentimento em si mesmo”; (1.2) Comoção, uma experiência que “quer dizer, aquilo que nos move, que nos movimenta interiormente”; (1.3) Emoção, quando nomeamos o sentimento, quando rotulamos as músicas em alegres, tristes, melancólicas e outros.  A partir do segundo nível, o de ouvir com o corpo, Santaella especifica que há: (2.1) ouvir de corpo tomado, no qual  “o ritmo penetra no corpo”, pois “o próprio corpo parece ser a fonte geradora do ritmo”; (2.2) quando o ouvir é uma contiguidade entre a música e o corpo, sendo a música algo que vem e “o corpo, sem saber, já começa a se agitar”; (2.3) a dança coreografada, na qual a coreografia funciona como tradução plástica do ritmo. Já no terceiro nível, o intelectual, Santaella encontra outros três desdobramentos: (3.1) Hipotético, quando o ouvinte, mesmo treinado, está “diante de um ato de recepção em que seu intelecto não pode senão formular hipóteses”; (3.2) Relacional, em que o ouvinte é capaz de perceber milimetricamente os jogos das sobreposições e, por fim, a (3.3) escuta especializada, quando o ouvinte conhece todos os sistemas de referência da música (2005).
         Lúcia Santaella entende que a classificação da escuta se tornou mais frequente na medida em que a percepção sonora se transformou nas últimas décadas em um elemento fundamental para a própria composição. Tratar da expansão da música como experiência estética é traduzir este período de transição para o mundo contemporâneo. Após a II Guerra, as fronteiras entre os países se diluíram e o avanço tecnológico proporcionou teorias mais complexas.
         A partir de reflexões sobre os estudos de Pierre Schaeffer, Santaella afirma que em meados deste século a composição musical passou a considerar qualquer tipo de som, inclusive ruídos.  Este é um advento próprio do mundo contemporâneo. Por isso, existem ainda outras classificações que podem ser utilizadas, além das nove modalidades anteriormente resumidas. “Palavras como ritmo, melodia e harmonia – colunas mestras da música que se engendrava a partir da nota como unidade – começaram a desaparecer do vocabulário dos compositores”, em decorrência das rupturas da linguagem sonora a partir de meados do século XX (2005, p. 88).  Assim, “insatisfeitos com os timbres da orquestra clássica, os compositores a ela adicionaram novos instrumentos: percussão em profusão junto com instrumentos populares, antes considerados indignos para comparecerem em um concerto” (2005, p.90). Fenômeno que evoca uma espécie de crise interrupta, resultante de novas máquinas que registram, amplificam, manipulam sintetizam, analisam e controlam o som. É a partir deste desenvolvimento tecnológico que se permite a “criação de matérias e trajetórias sonoras inauditas”.
         Santaella explora um novo mundo de percepções ao sinalizar que, a partir de Boulez, existem sons a serem ouvidos e possibilidades a serem exploradas (2005, p.91). A música eletrônica, por exemplo, proliferou o material sonoro, adicionando novas transformações do som (BAYLE apud SANTAELLA).
Ao retomar Bayle (1993) e Wishart (1996), Santaella apresenta uma “flexibilidade temporal” que, em um sentido amplo, trata da impossibilidade de se detectar as hierarquias estruturais da produção artística. Como exemplo, cita o “i-som”, um composto imagem-som, que considera “o conceito espacial da forma que se revela com todas as suas consequências” (2005, p.95). Por fim, interpreta a música contemporânea como uma transgressão, como uma forma de renunciar aos esquemas e sistemas formais, contrapor as inércias e estagnações. E é por estas razões que Santaella ao analisar este panorama multifacetado e pluridimensional optou por passar a chamar suas classificações de modalidades da sintaxe sonora e não mais estritamente de sintaxe musical. “Enfim, uma classificação capaz de abrigar não só a música das notas, mas também aquela dos grânulos, massas, nuvens e poeiras de sons” (2005, p.96).

IN MEMORIAN - Homenagem a Paulo Santos da Silva

"Para um amante da justiça, a morte é a coisa mais mal distribuída deste mundo. Não posso entender qual seja o critério com que a distribuição se dá. Mas, há um critério? A sorte joga os dados e ao resultado chamamos destino” - Bobbio.


Paulo Santos da Silva foi integrante do Grupo de Pesquisa Imbricamentos de Linguagens desde o ano de 2014. Defendeu a sua dissertação de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade em 2015 – “Representações e memórias: jogos de poder nas lendas circulantes em Guaratuba recuperadas por vozes de mulheres”, na Linha de Pesquisa Patrimônio e Memória Social, da Univille - Joinville, SC. Pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC, graduado em Letras - português/latim pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (1992)Atuou como professor na Faculdade do Litoral Paranaense - ISEPE, no Colégio Monteiro Lobato - em Guaratuba/PR, no SENAC - Caiobá, como professor substituto na Fafipar - Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá, no Colégio Nova Geração - Paranaguá, Curso Pré-Vestibular Evidente - Curitiba -, no Ensino Médio no Colégio Isepe de Guaratuba e no Ensino Fundamental, 4º Ciclo, na Sociedade Educacional Novo Éden, em Curitiba. 

                Foi contador de 'causos' e idealizador de pontes. 


Na travessia da vida não sou como ferry-boat, que atrasa, que perturba, que não evolui – só retrocede; na travessia da vida planto canções e ensinamentos, pérolas, flores e sentimentos, vejo e revejo o que fiz, para que quando a luz estiver se fechando, eu possa cantar que fui feliz.” Paulo Santos da Silva * 03.09.1964 + 31.07.2017
Fonte: https://www.correiodolitoral.com/21078/a-luta-continua


4º Ciclo de Conferencias sobre Estudios Latinoamericanos (IAPCS.UNVM)

UNIVERSIDAD NACIONAL DE VILLA MARIA - ARGENTINA

IDENTIDADES  URBANAS  E IDENTIDADES INTERCULTURALES:
LENDAS URBANAS RECUPERADAS POR VOZES DE MULHERES

Dra.Taiza Mara Rauen Moraes
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE¹
Mestre Paulo Santos da Silva -UNIVILLE²


 As lendas coletadas em Guaratuba/PR, foram contadas por vozes de mulheres, a partir de pesquisa desenvolvida nos anos de 2014 e 2015, por Paulo Santos da Silva, reafirmando Paul Ricoeur[1] ao sinalizar que em cada versão, o lendário (re)inaugura “novas formas de narrativas, que ainda não sabemos dominar”, num metamorfismo contínuo fixando culturas e linguagens em fluxo. Portanto, novas formas de narrar as lendas transmitem memórias de grupos, de uma época e de uma cultura, revivendo pela oralidade no tempo presente histórias que recuperam tradições. Pensamos as lendas como uma coletânea dos rastros deixados pelos acontecimentos que afetam o curso da história dos grupos envolvidos, cuja memória permite o sentido da orientação na passagem do tempo, que vem em mão dupla, do passado para o futuro e também do futuro para o passado através do presente em que se vive.

Para ter acesso ao texto na íntegra, acesse:  Clique aqui!



LENDAS COMO REGISTROS IDENTIFICADORES DE PAISAGENS CULTURAIS

Paulo Santos da Silva
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE¹

Taiza Mara Rauen Moraes
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE²




Resumo

Falar sobre lendas, é falar sobre universos de memórias recriadas a cada (re)conto, que nascem de fatos reais acrescidos de informações ou sintetizados e são transformadas em  novas narrativas como registros difundidos oralmente e recuperados  mantendo vivas tradições coletivas e paisagens culturais. As lendas coletadas em Guaratuba/PR, contadas por vozes de mulheres, a partir de pesquisa desenvolvida nos anos de 2014 e 2015, reafirmam Paul Ricoeur (1995) ao sinalizar que em cada versão, o lendário (re)inaugura “novas formas de narrativas, que ainda não sabemos dominar”, num metamorfismo contínuo fixando culturas de linguagens em fluxo. Portanto, novas formas de narrar as lendas transmitem memórias de grupos, de uma época e cultura, revivendo pela oralidade no tempo presente histórias que recuperam tradições dos grupos envolvidos, cuja memória permite o sentido da orientação na passagem do tempo, que vem em mão dupla, do passado para o futuro e também do futuro para o passado através do presente em que se vive delineando paisagens culturais. Assim, no ato de narrar lendas, perpassam jogos ideológicos que podem apontar para o entendimento de como essas narrativas são recontadas no tempo presente, de como elas permitem novos e múltiplos olhares sobre as paisagens das quais originam e de como elas, as narrativas, podem ser vistas como memória de um grupo que se considera autor de sua própria história e faz da realidade vivida suas representações.

Palavras- chave: Atores sociais; Memórias; Lendas: Paisagem cultural.

Para ter acesso ao texto na íntegra, acesse: Texto III ENIPAC

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