Fichamento - A narrativa cinematográfica de André Gaudreault François Jost


Fichamento do livro: GAUDREAULT, André; JOST, François. A narrativa cinematográfica. Trad. Adalberto Muller, Ciro Inácio Marcondes e Rita Jover Faleiros. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2009. 
Autoria: Karla Adriana Nascimento Cunico

p. 37
As dificuldades das descrições linguísticas do visual devem-se ao fato de que “a imagem mostra, mas não diz” (JOST, 1978), portanto, cabe o questionamento como o plano cinematográfico significa e como ele narra. Essas duas questões são tratadas por Metz, na medida em que ele não questiona o que os filmes narram. Para ele, prioritário é compreender como a imagem móvel – que pode estar aquém da narrativa – significa. Interrogação que suscita uma segunda questão: até que ponto se pode admitir que o cinema seja uma linguagem? É para contrapô-lo à língua que o semiólogo se esforça em demonstrar que nenhum plano é equivalente a uma simples palavra e que, inversamente em toda imagem existe pelo menos um enunciado: “a imagem de uma casa não significa 'casa', mas sim 'eis uma casa'” (METZ, 1968, p. 118).
p. 46
[…] a imagem funciona como um índice, no senso de Charles Peirce, na medida em que ela parece, para o espectador, ter sido diretamente “afetada” pela espacialidade e a temporalidade do objeto representado. Como diz Peirce:

um índice é um signo que remete a um objeto que ele denota, porque ele é realmente afetado por esse objeto […]. Na medida em que o índice é afetado pelo objeto, ele possui necessariamente alguma qualidade em comum com o objeto, e é dando atenção às qualidades que ele pode ter em comum com o objeto que ele remete a esse objeto (PEIRCE, 1978, p. 140)
p. 49
Admite-se que “um documentário se define como apresentando seres ou coisas existindo positivamente na realidade afílmica” (SOURIAU, 1953, p. 7), enquanto a ficção tem o poder de criar mundos, mesmo se ele ou eles se assemelharem ao nosso. A realidade afílmica, isto é, a realidade “que existe no mundo habitual, independentemente de qualquer relação com a arte fílmica” é um mundo que pode ser verificado (dependendo dos conhecimentos do espectador do universo espaço-temporal em que vive), enquanto o mundo da ficção é um mundo em parte mental, que tem suas próprias leis (SOURIAU, 1953 p. 7). De maneira que o que sucede em tal ou qual narrativa fílmica e que nos parece verossímil pode parecer absurdo em outro.
p. 64
[…] os documentários são geralmente feitos de modo que prestemos mais atenção àquilo que é dito pelo entrevistado do que o modo como é filmado.
p. 67/68
O cinema tem uma inclinação quase “natural” pela delegação narrativa, pelo encaixe do discurso. A razão disso é, no fundo, bem simples: é que o cinema mostra personagens em ação que imitam os humanos, em suas diversas atividades cotidianas, e uma dessas atividades, à qual nós nos entregamos todos, de um momento a outro é a de falar. E, falando, a maioria dos humanos é levada a utilizar a função narrativa da linguagem – a narrar, a se narrar. Ora, no cinema, esse fenômeno é acentuado, pois utiliza, cinco matérias de expressão – as imagens, os barulhos, as falas, as menções escritas e a música.
p. 74
Chegamos mesmo a vislumbrar o reagrupamento das matérias de expressão sob a dependência ou a tutela de substâncias particulares: como André Gardies (1987), que divide em três subgrupos as diversas responsabilidades narrativas  do “enunciador fílmico”, que modulará a voz de três subenunciadores, cada um responsável, respectivamente, pelo icônico, pelo verbal, pelo musical.
p. 85
Como todas as outras formas de narração, a narração fílmica presume a comunicação de informações narrativas entre duas instâncias situadas cada uma em uma ponta da cadeia. O narratário de uma narrativa é aquele ou aquela a quem ela é destinada, é assim submetido, a um processo comunicacional no momento em que o narrador libera para ele uma multitude de informações sobre o universo diegético onde evoluem os diversos personagens da narrativa, assim como sobre esses próprios personagens e, é claro, sobre as ações que eles realizam.
p. 92
Efeitos de linguagem: a palavra traz algumas informações que a imagem muda não pode fornecer:
a) dirige os espectadores para diferentes significados possíveis de uma ação representada visualmente. É sua função de fixação.
b) dá um sentido ideológico, permitindo um julgamento a respeito daquilo que a imagem não pode apresentar de modo assertivo; desse modo dá instruções ao espectador para interpretar aquilo que vê.
c) ela nomeia aquilo que a imagem só pode mostrar: os lugares, os tempos, os personagens.
d) acrescenta à narração a possibilidade do discurso direto por meio da transmissão das réplicas do personagem.
p. 93
Efeitos narrativos: a palavra ajuda a construção da história:
a) as informações verbais contribuem para a formação do mundo diegético: situando, no tempo e no espaço, as imagens que vemos, construindo o caráter dos personagens, nomeando os personagens, estabelecem o quadro de interpretação no qual a história que vemos acontecer parece verossímil.
[…]
p. 105
O espaço é um dado incontornável que não podemos desprezar quando se trata de narrativa: a maioria das formas narrativas inscreve-se em um quadro espacial suscetível de acolher a ação vindoura. A narrativa cinematográfica, quanto a isso, não é exceção. Parece até mesmo ser difícil conceber uma sequência de eventos fílmicos qualquer que não esteja, sempre, inscrita em um espaço singular. A unidade básica da narrativa cinematográfica, a imagem, é um significante eminentemente espacial, de maneira que, ao contrário da maioria dos outros veículos narrativos, o cinema apresenta sempre, simultaneamente as ações que fazem a narrativa e o contexto de ocorrência delas.
p. 111
Se partirmos do princípio de que “enquadrar é admitir o dentro do campo e simultaneamente rejeitar o fora do campo” afirma Gardies (1981, p. 79), não é, entretanto, espantoso que o fora do campo diegético tenha, historicamente, sido convocado tão rapidamente para fazer um papel no mínimo crucial. Campo e fora do campo, espaço presente e espaço ausente.
p. 115
A relação da câmera com o espaço é, portanto, de uma importância muito grande no plano narrativo, já que, como notamos, é graças à mobilidade da câmera (no duplo sentido da ação de mobilizar, de fazer mexer) que o cinema desenvolveu boa parte de suas faculdades narrativas. Essa mobilidade é, aliás, operada a partir de dois parâmetros que devem ser distinguidos: o deslocamento da câmera entre os planos, tal qual definiremos, e também o próprio movimento de câmera durante o curso do plano (panorâmica, travelling). Esses são, certamente, dois parâmetros que têm em comum esse ganho sobre o espaço, necessário para se obter a flexibilidade narrativa que caracteriza tão bem o cinema. Mas o primeiro permite realizar uma série de proposições narrativas difíceis de ser expressas unicamente pelos recursos dos movimentos de câmera.
p. 139
É justamente pelo fato de o filme falado ser uma dupla narrativa que a ordem temporal é frequentemente uma resultante complexa, que combina o que é representado visualmente pelos atores e o que é relatado verbalmente por um narrador.
p. 142
Como vimos para analisar um filme, é importante considerar as analepses (retrocessos no tempo) que ocorrem na linguagem e os índices temporais fornecidos pela imagem.
p. 145
Ao contrário do romance, o cinema articula, como já dissemos várias vezes, muitas “linguagens de manifestação”. Tal multiplicidade (assim como, pensando somente na imagem, cores, gestos, expressões, vestimentas, objetos, etc., ad infinitum), que é além disso, multiplicada pela pluralidade de materiais de expressão (imagens em movimento, as menções escritas, os barulhos, as falas e a música), põe o espectador na presença de uma quantidade importante de signos (e, portanto, de eventos) simultâneos, de maneira que e simultaneidade das ações diegéticas está intimamente ligada à sucessividade.

Anais de Resumo ENIPAC

Confira os anais de resumo do 1º Encontro Internacional Interdisciplinar em Patrimônio Cultural - ENIPAC

Objetivo: possibilitar reflexões sobre o patrimônio cultural na contemporaneidade
Data: 20 a 22 de junho de 2012
Local:Anfiteatro I - UNIVILLE - Campus Joinville- SC

Confira aqui:
Anais de Resumo ENIPAC

Resenha Crítica - ANALÍTICAS CULTURAIS de Lev Manovich



Resenha Crítica
Autores da Resenha: 
Sandra Pereira
Referência do Texto:
ANALÍTICAS CULTURAIS
Palavras-chaves (3):
ANALÍTICA – CULTURA - DIGITAL
Desenvolvimento do Texto:
       Lev Manovich (Moscou, 1960), crítico de cinema e professor universitário estabelecido nos Estados Unidos. É pesquisador na área de novas mídias, mídias digitais, design e estudos do software (software studies). Mudou-se para Nova Iorque nos anos 1980, onde realizou seus estudos em cinema e computação.                   Atualmente, Manovich atua como professor e coordenador do Centro de Pós-graduação em Humanidades Digitais (Digital Humanities) na City University of New York (CUNY), local onde fundou o primeiro centro de pesquisa dedicado ao tema das humanidades digitais, com programas de mestrado e doutorado na área e coordena o Laboratório de Estudos do Software (Software Studies Initiative - www.softwarestudies.com.br) em parceria com o CALIT2, da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), o Graduate Center da CUNY e a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).     
      Desde 2006, Manovich passou a se dedicar a analisar a chamada "sociedade do software". O seu grupo de pesquisa em Software Studies dedica-se a pensar os efeitos do software na sociedade e de que forma o software vem transformando a maneira como vivemos, pensamos, tanto economicamente quanto culturalmente,seus textos tratam de "cultural analytics", ou "analítica cultural", uma forma de se pensar nos efeitos do software sobre as representações culturais. Em, “Como acompanhar culturas digitais globais ou Analíticas Culturais para iniciantes”, o autor vem nos alertar que em tempos globais, qualquer pessoa, em qualquer parte do planeta, ao criar um blog passa a ser considerada uma produtora de conteúdo cultural nascido em meio digital, ainda que amadoristicamente, e pode compartilhá-lho com o mundo todo. Portanto, a oferta de produtos culturais não se restringe mais aos pólos  geradores de cultura tradicionais como Paris. Pulverizou-se a produção de conteúdos tanto profissional quanto amador e –sublinha o autor – as cidades do terceiro mundo e as do leste europeu, regiões ainda em expansão econômica, tem sido as mais receptivas aos novos softwares que possibilitam produzir arte, haja vista os vários sites de arquitetura no qual profissionais de todas as partes disponibilizam seus portfólios. É a globalização da cultura em meio digital! É a redefinição do que é cultura.
          No entanto, o autor alerta para outra situação: antes, os teóricos culturais e historiadores poderiam gerar teorias e histórias baseadas em pequenos conjuntos de dados, por exemplo, conseguiam escrever sobre o  "cinema clássico de Hollywood" ou sobre o "Renascimento italiano" pois a produção desses artefatos estava concentrada em alguns pólos e era necessário ir até eles, participar das exposições para poder escrever sobre os mesmos. Porém, como conseguir apreciar e acompanhar a  cultura que agora se cria em meio digital, e que é globalmente, produzida e ofertada diariamente por centenas de milhões de contribuintes no mundo todo? Como conseguir compreender como se deu o desenvolvimento de determinado produto, entender como cada “artista” concebeu sua “obra”? Quais as aspirações que subjazem em cada trabalho?
     Manovich frisa que não é possível “catalogar” tais conteúdos com as ferramentas que eram utilizadas no século 20 e aponta com uma possiblidade: “E se utilizássemos os softwares e computadores (que hoje em dia são onipresentes) para tal função?”
        Um dos objetivos que se acredita seja possível atingir mediante a utilização da Analítica Cultural é analisar quantitativamente a estrutura desses objetos e visualizar os resultados revelando os padrões que se escondem sob a estrutura e que não são possíveis de serem trabalhados sem a ajuda das capacidades de percepção e cognição humana. Outra possibilidade é estabelecer uma taxonomia para os diferentes tipos de conteúdo. Essa taxonomia pode orientar a elaboração de estudos e pesquisas, bem como, ser usada ​​para agrupar esses estudos uma vez que começam a se multiplicar considerando o incremento da quantidade de conteúdo digital disponibilizada a partir de meados da década de 1990.
        O autor argumenta que a utilização sistemática de análise computacional em grande escala e a visualização interativa de padrões culturais vai se tornar uma grande tendência na crítica cultural e nas indústrias culturais nas próximas décadas. O que vai acontecer quando os humanistas começarem a usar visualizações interativas como uma ferramenta padrão em seu trabalho, da mesma forma como muitos cientistas  já o fazem? Se através de slides (apresentações) é possível ensinar e aprender sobre história da arte, e se através de um projetor e da gravação de um vídeo é possível, igualmente, ensinar sobre cinema, fica a curiosidade: que tipo de disciplinas culturais (cadeiras nas universidades) podem vir a surgir a partir do uso da visualização interativa e da análise  de grandes conjuntos de dados culturais? Que tipos de novas demandas teremos? Afinal, com uma boa base de dados, estatisticamente analisados, é possível inverter o fluxo da produção cultural: se antes um jovem arquiteto lançava um portfólio arriscando-se a não vender seu produto; mediante análise da preferência do público ele pode atender melhor suas demandas e as chances de vender seu produto serão maiores. E assim é com todo tipo de artefato cultural ofertado pela web.
         Aos livros, jornais, revistas, filmes, obras de arte e arquivos de som, que estão sendo digitalizado em escala maciça, é possível aplicar técnicas de análise de dados para grandes coleções de diversos recursos do patrimônio cultural do mesmo modo como  já se aplicam essas técnicas aos dados científicos. Como essas técnicas podem ajudar os estudiosos a utilizar tais análises para fazer novas perguntas sobre o que é o conhecimento e sobre como obter novos conhecimentos para o benefício da humanidade? Como construir novos conhecimentos?
        Se quisermos estudar quais os estereótipos culturais contemporâneos e quais convenções delineiam a produção cultural atual, basta analisar os portfólios disponibilizados por contribuintes ainda “não profissionais” pois no afã de querer se profissionalizar, os mesmos acabam, inadvertidamente, expondo  os códigos e os protótipos (ou modelos) utilizados nas indústrias de uma forma muito clara. Ou seja, é possível perceber e desenvolver estudos sobre tendências culturais a partir da percepção de padrões.
          Manovich  faz uma profecia  em 2009 e que se cumpre na atualidade: sempre que acessamos a internet somos de algum modo “acompanhados” e há vários ícones piscando, pedindo para serem clicados e que funcionam como “agentes” que rastreiam os sites que visitamos e registram  nossas preferências. Tais procedimentos geram estatísticas e estudos de tendências de consumo que são vendidos para todos os tipos de indústria de modo que possam produzir de acordo com o esperado pelos clientes. Nesse sentido, a indústria cultural também se utiliza das mesmas ferramentas de análise. Se considerarmos que muito do que se disponibiliza atualmente na internet pode ficar armazenado em nuvens e deslocando esse argumento para a discussão dos bens culturais sob a ótica da preservação dos mesmos enquanto patrimônios culturais imateriais disponibilizados digitalmente, é de se imaginar que muito em breve não haverá mais necessidade de registrar tais acervos e surge o questionamento: preservar para quê e para quem?
       Ainda no tocante aos patrimônios culturais materiais e imateriais a escolha quanto ao que deve efetivamente ser preservado sempre costuma ser fruto de ajuizamentos feitos segundo os interesses de quem quer preservar. Nem sempre a decisão de preservar um patrimônio nasce no bojo das discussões  interativa entre múltiplos atores sociais. Nesse sentido, Manovich nos faz pensar que sendo a internet um território no qual todos podem disponibilizar e ofertar seus bens culturais, a decisão de quais acervos manter digitalmente para fruição permanente do público implica numa descentralização de poder, a partir do momento em que se leva em conta estudos estatísticos e humanísticos para melhor atender o público que consome arte, a própria oferta de um cardápio variado de produtos culturais implica em processos de seleção mais democráticos pois se atenta à formação do gosto sempre que se considera os estudos e indicadores que refletem as aspirações de quem consome tais produtos.
       Texto interdisciplinar dirigido para designers, produtores culturais, escritores, pessoas envolvidas em processos de registro de patrimônios culturais imateriais, antropólogos, sociólogos, historiadores, profissionais de informática pois, o texto ao abordar a produção cultural e seus mapeamentos, abre para discussões e imbricamentos vários.  
Observações:
Artigo disponível em inglês e alemão, retirado do blog: http://lab.softwarestudies.com/p/publications.html

Artigo publicado na Revista Publicatio UEPG: Ciências Sociais Aplicadas, No 21 (2013)


FLUXOS IDENTITÁRIOS A PARTIR DO REFERENCIAL LINGUÍSTICO E 
INTERFACES CULTURAIS: UM ESTUDO SOBRE TRANSFORMAÇÕES E 
DESLOCAMENTOS CULTURAIS ENTRE DESCENDENTES DE ALEMÃES 
EM JOINVILLE-SC

Jailson Estevão dos Santos1
Taiza Mara Rauen Moraes2
RESUMO

No presente artigo, os focos de análise são referenciais linguísticos associados a fluxos identitários que motivaram transformações, deslocamentos e criação de mitos entre descendentes de alemães em Joinville-SC. O período investigado é o do “Estado Novo”, atrelado à campanha de nacionalização do governo Getúlio Vargas. Momento de transformações políticas e sociais que culmina na proibição do uso da língua alemã no Brasil, amplamente falada em Joinville/SC, repercutindo em mudanças identitárias pelo sufocamento linguístico e cultural. 

Palavras-chave: Identidade. Cultura. Referencial linguístico.

1 Teólogo e professor (Português e literaturas vernáculas), especialista em educação. Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade: UNIVILLE – Universidade da região de Joinville. Email: jeste@ig.com.br

2 Professora titular do curso de Letras e do Mestrado - UNIVILLE – Universidade de Região de Joinville, com mestrado e doutourado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Coordena o Comitê Proler Joinville e o Programa Institucional de Incentivo a Leitura da Univille. Desenvolve projetos de pesquisas na área de Letras e Cultura, com ênfase em Leitura em Meios Eletrônicos, Memória e Gênero. E-mail: taiza.mara@univille.br


XIII Congresso Internacional da ABRALIC


Do dia 08 a 12 de julho, ocorreu em Campina Grande - Paraíba o XIII Congresso Internacional da ABRALIC, a professora Taiza Mara Rauen Moraes participou de uma comunicação com a pesquisa Poética Tecnológica: O blog como espaço de leitura do literário

SIMPÓSIO: ENSINAR LITERATURA: AS (CON)TEXTURAS DO SABER LITERÁRIO NA CONTEMPORANEIDADE
COORDENADORES: MARTA APARECIDA GARCIA GONÇALVES e ROSANA CRISTINA ZANELATTO SANTOS


Resumo:

Contemporaneamente a leitura do literário pode ser desenvolvida em espaços  de  imbricamentos das  linguagens verbal, icônica e visual, viabilizados pela tecnologia . O blog se constitui como um espaço virtual que propicia a leitura em rede e a postagem de impressões críticas partilháveis por um grupo e simultaneamente disseminadas pela internet, rompendo as fronteiras entre espaços públicos e privados, bem como a percepção de diferentes textualidades, do texto para o hipertexto. Práticas leitoras que estabelecem várias possibilidades de diálogo do texto literário com textos visuais, jornalísticos, históricos, filosóficos tecendo enredamentos múltiplos. Desse modo, a pesquisa apresentada é uma análise de experimentos de leitura no blog www.poeticatecnologica.blogspot.com instrumento que auxilia e (re)configura o ensino de literatura propiciando o registro do movimento do sujeito como autor e receptor. As ideias foram ancoradas nos conceitos de Lévy (1997, 2003), Foucault (1992), Benjamin (1980), Bauman (2011), Santaella (2008), Darnton (2010)  e Jameson (2007), que discutem livro, leitura, literatura, autoria, ciberespaço e cibercultura.

Palavras-chave: blog; leitura; literatura.


Seminário Patrimônio Cultural e Herança Social

Seminário Patrimônio Cultural e Herança Social
Data: 12 a 14 de agosto (Inscrição: (47) 3461-9004 – eventos@univille.br)
Horário: 19h às 22h 
Local: Anfiteatro da Biblioteca Universitária 

Professora Dra. María Laura Gili - Professora Adjunta da Universidad Nacional de Villa María, Córdoba, Argentina. Membro do Centro de Arqueologia Histórica, Departamento de Arqueologia, Facultad de Humanidades y Artes, Universidad Nacional do Rosario, UNR. 

Mediação: Professora Dra. Taiza Mara Rauen Moraes - Mestrado Patrimônio Cultural e Sociedade e Departamento de Letras – UNIVILLE.

Questões problema
 Quais as relações existentes entre os bens culturais, o Estado e seus produtores? Os diferentes setores sociais que convergem para o Patrimônio Cultural Integral. História e patrimonialização do passado.

Objetivos
1. Abordar o patrimônio integral como problema de investigação específico das ciências sociais no contexto de produção latino americano.
2. Analisar o patrimônio integral como espaço de entrecruzamento político e da cultura, material e simbólica.
3. Refletir sobre as implicâncias éticas do estudo e da gestão das heranças sociais 

Temas
1. As distintas formas do patrimônio integral: histórico, cultural, natural, arqueológico e antropológico.
2. Patrimônio Cultural e história: o uso do passado. A herança social como memória coletiva.
3. Patrimônio cultural e educação: a formação da identidade processos de invenção de tradições, o caso da história argentina.
4. Patrimônio cultural e ética: a diversidade e o conflito.
5. Patrimônio cultural e interculturalidade.

RESENHA - Michel MAFFESOLI – Elogio da razão sensível

RESENHA - Capítulo VI – A experiência. 1 – O senso comum. 2 – A Vivência  pp.161-183. In: MAFFESOLI, Michel – Elogio da razão sensível. Trad. Albert Christofhe Migueis Stuckenbruck. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.


 

Laura Meireles Gomes Moura[1]


1 – O senso comum

Neste capítulo Maffesoli aborda os caminhos de aproximação e distanciamento entre o discurso especializado e o senso comum passando por todas as paisagens de sedimentação de conceitos corretivos e da fragilidade da legitimação desse último, destituído assim, de um valor em si mesmo para ser questionado e validado. A validação do discurso especializado  pelo “corte epistemológico” é a questão   posta neste capítulo.
Maffesoli considera a intuição e o uso da metáfora como expressões do senso comum e ata-os ao patamar da legitimidade pura, visão que se prende claramente àquilo que lhe confere e importa à vida, na proximidade da construção dela própria sem se ater a moldes do sistema teórico.
A mitologia  é utilizada  com o recorte do mito de Dionísio, ao tratar o saber também por esse olhar – o saber enraizado da divindade arbustiva de Dionísio, o mesmo que M. Weber chama de emocional ou afetual, próprio à comunidade, o que nos faz compreender a integração entre saber orgânico-corporal e o saber social. Assim sendo, são considerados simultaneamente importantes os dados profundos e de superfície que permeiam a cultura como fundamentos da ordem grupal.                          Maffesoli, também salienta que o racionalismo empenhou-se em passar a borracha em tudo que era da ordem do sentimento comum, fazendo dessa concepção um encontro com a metodologia de construção do conhecimento científico.
Portanto, o ponto de partida  de Maffesoli é a  “representação compreensiva”  de Nietzsche que  denomina “enraizamento dinâmico”, advindo do substrato construído de geração em geração e que lembra os vínculos de passado e futuro, provenientes dos enraizamentos da reflexão conferindo já, uma dinâmica do sensível na evolução social.
Ao passar por vários pontos de referências filosóficas nesse sentido, a valorização do ordinário, da sabedoria popular, associam-se ao simbolismo da árvore que se expande e eleva o senso comum à expressão de presenteísmo que serve de pivô entre passado e futuro e de toda a carga simbólica dos arquétipos – regime diurno e noturno que nas raízes da antropologia alimentam, pelos caminhos da seiva, essa árvore assegurando-lhe um crescimento natural que oferece os frutos do comunitário. Dessa forma é acentuado  que o que precede  a qualquer racionalização é a vivência comum que pode tomar formas diversas, mas que, nem por isso, exprime menos extraordinariamente o querer viver que constitui a sociedade.

2 – A Vivência

Ao ligar a vivência, a experiência sensível a laços importantes e significativos do saber, quebra-se aqui os conceitos preestabelecidos que compartimentam o saber e a reflexão e deles desvinculam a experiência sensível, como não pertencente às bases racionais.
Maffesoli propõe a ênfase da vicência cotidiana e da sabedoria popular, fundamentos da sociologia, como forma de reformulá-la atribuindo-lhe a denominação de “sociosofia” como forma de integrar e compreender a “mística do estar junto” explicando as agregações sociais não pela visão racionalista, mas pelos vínculos e as relações de pertença. Utiliza-se da “fórmula” de Fernando Pessoa: “Uns governam o mundo, outros são o mundo” como forma de propor a “centralidade subterrânea” determinando a socialidade e não as formas econômico-políticas como determinantes da vida social.
O teórico outras formas de pensar o vínculo social fora das grandes categorias que marcaram a modernidade: História e a Crítica, passa a ofertar a vivência um outro patamar cujo foco é o cotidiano envolto pelas paixões e os afetos que Bergson denomina de “duração” – pequenos “instantes eternos” que impregnados de significações passam da efemeridade do momento para momentos perduráveis em sua globalidade.
Um aspecto importante é a cientificação do estudo da cultura que quando se torna essencialmente normativo perde a essência principal, atribuindo ao fetichismo  para perceber o que há de vivo na cultura delegando desta forma, a inteligência aos locais de confinamento desta: as universidades, os centros de pesquisa, cada vez mais distantes da vida real.Estes sistemas explicativos e normativos – universalismos abstratos tendem a explicar todos os acontecimentos submetendo a existências às teorias que entendem explicá-la permanecendo fechada numa circularidade.Porém, é necessário para entender um novo estado de coisas, deitar fora as velhas ideias que prevaleceram até então, pois são dogmáticas, percebendo a especificidade e dirigindo-se para a vivência daqueles que são seus protagonistas, do que as teorias codificadas que já indicam o que esse fenômeno é ou deve ser encontrando explicações causais, para coisas humanas, mas, sobretudo compreendê-las.
A separação entre a objetividade e o entusiasmo já é posta entre a ciência e as obras de ficção numa modernidade ofuscada pelo saber científico e técnico, deixando clarear-se a visão quando se constata empiricamente que o sentimento comum, quer no júbilo ou na crueldade, é o que importam – experimentar, juntos, emoções comuns. Assim fazendo, incorporamos o mundo, e nos incorporamos ao mundo. E isso, no sentido mais simples, tornando-nos um corpo global, um corpo social, isto é, um corpo animado. Um corpo construído a partir da união dos contrários, um corpo que alia, ao mesmo tempo, o material e o espiritual, o sensível e o inelegível. Um corpo social que repousa antes demais nada sobre a colocação dos corpos individuais em relação, e, igualmente sobre o fato de que esta colocação dos corpos em relação secreta uma aura específica, um imaginário específico que é o cimento essencial de toda vida em sociedade.



[1] Mestranda em Patrimônio Cultural e Sociedade - UNIVILLE
 

Síntese Crítica Cap. II O que é Arqueologia. In: ARQUEOLOGIA de Pedro Paulo Funari




Karla Adriana Nascimento Cunico[1]

FUNARI, Pedro Paulo. ARQUEOLOGIA. São Paulo: Ática 1988.

2. O que é a Arqueologia

Delimitação de um campo de pesquisa

            Delimitar o campo de atuação da Arqueologia não é uma tarefa simples, entre os próprios profissionais da disciplina não há consenso, pois esta ciência encontra-se em plena construção. Para Funari (p. 09), “a Arqueologia estuda os sistemas socioculturais, sua estrutura, funcionamento e transformações com o decorrer do tempo, a partir da totalidade material transformada e consumida pela sociedade”. A partir deste conceito partem-se várias discussões, o autor (p. 09) levanta três questões que ao serem respondidas podem delimitar esta ciência:  

          O que estuda a Arqueologia?     
          O que visa a Arqueologia?       
          Qual sua relação com outras ciências sociais?

          O autor retrata a visão tradicional, amplamente difundia entre os próprios arqueólogos, de que o objeto de estudos da arqueologia se resume ao patrimônio material, que basicamente estes profissionais são responsáveis por “esburacamento do solo e a recuperação de objetos antigos” (p. 10). Funari não concorda com esta visão e afirma que “não há uma oposição entre os dois níveis que justifique o estudo apenas das coisas: a cultura refere-se, a um só tempo, ao mundo material e espiritual” (p. 10). Ele ressalta que ultimamente esta ciência tem “alargado seu campo de ação para a cultura material de qualquer época, passado ou presente” (p. 10).
Sobre o objeto de estudo da Arqueologia, Funari (p. 11) conclui que “a Arqueologia estuda, diretamente, a totalidade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e imaterial, sem limitações de caráter cronológico”.
            Quanto à questão: o que visa a Arqueologia? O autor diz “a Arqueologia, partindo dos elementos materiais apropriados pelo homem, visa à compreensão do funcionamento e transformação das sociedades humanas” (p. 12).
            Já o tópico sobre as suas relações com as outras ciências humanas, é complexo e se consolidou como embate entre pesquisadores e profissionais da própria arqueologia com outros da história e da antropologia. De um lado, estão os que afirmam que a Arqueologia é uma disciplina auxiliar que encontra e cataloga objetos materiais oriundos de escavações, de outro se encontram arqueólogos com uma visão mais abrangente daquela ciência “enquanto estudo da porção da cultura material, possui uma práxis e uma reflexão metodológicas próprias, ambas em construções, e cujas características, ainda embrionárias, justificam sua qualificação como projeto de ciência da cultura material” (p. 16).

O cotidiano: o contexto cultural da atividade humana

Neste tópico o autor levanta um importante questionamento, a análise dos objetos materiais sem que seja levado em conta o contexto cultural da sociedade que o criou. Há uma “fetichização dos artefatos, que parecem adquirir independência de seus produtores e usuários” (p. 17). Em contrapartida, “ocorre uma humanização do universo material, ocorre uma reificação (coisificação) das relações sociais, uma alienação da vida social na esfera natural” (p. 17). Funari resume esta importante questão tratando-a como um “paradoxo: que as relações sociais sejam tomadas como fazendo parte da esfera natural e os artefatos, em oposição, adquiram uma trajetória autônoma” (p. 17).

Com o que se depara o arqueólogo: o contexto arqueológico

            Funari, diz que basicamente o arqueólogo trabalha com escavações e que os objetos normalmente encontram-se “mutilados e deslocados do seu local de utilização original” (p. 22). Para tratar do contexto arqueológico, o autor faz uma importante observação ao afirmar que “a Arqueologia nada mais é que uma leitura, um tipo particular de leitura, na medida em que seu texto não é composto de palavras mas de objetos concretos” (p. 22). Neste ponto a ênfase é para a dificuldade desta leitura, “a (in) traduzibilidade do texto arqueológico” (p. 22). Para auxiliar tal leitura há uma

preocupação crescente com a interdisciplinaridade, buscando-se um intercâmbio, quanto ao modo de leitura, com campos de atuação paralelos e complementares. Isto é particularmente válido no que diz respeito à Semiótica, preocupada com os princípios teóricos da comunicação – e, portanto, com a leitura em geral –, mas atinge já outros tipos de leitura, aparentemente distantes da Arqueologia, como a Psicanálise (p. 22).

Os artefatos, índices e mediadores

            Funari reafirma que os artefatos de determinada sociedade remetem as relações socioculturais desta, eles são “sempre índice das relações sociais nas quais foi produzido e apropriado” (p. 22). Tais artefatos (ou indícios) podem ser interpretados já que são “produto do trabalho humano, e, portanto, apresentarem necessariamente duas facetas: têm uma função primária (uma utilidade prática) e funções secundárias (empregos secundários)” (p. 23). Além disso, ele “exerce uma mediação nessas relações, atuando como direcionador de atividades humanas” (p.23).
            Cada sistema social tem seu próprio “universo material” (p. 24), os objetos são usados pelos humanos como auxiliares na divisão social, hierarquização e na consolidação da identidade cultural.

Os objetos arqueológicos na sociedade contemporânea

            Funari, faz uma reflexão sobre artefatos encontrados em escavações arqueológicas e que são (re)utilizados pela sociedade atual, como instrumentos ou como objetos de decoração. Ele cita ainda que “boa parte dos objetos, na medida que não possuem valor material ou cientifico, segundo os padrões sociais vigentes no memento da recuperação, é novamente desativada e transformada em lixo” (p. 24).
            Na mediada que acontece aquela reintegração de tais artefatos, esses “podem adquirir funções ideológicas, tanto no sentido de acobertamento de relações sociais passadas e na sua fetichização como, ao contrário, servindo de elemento de recuperação do passado para uma crítica do presente” (p. 24/25).

Considerações críticas

            Nesse capítulo da obra de Funari, dois tópicos se destacam, o primeiro é a afirmação que o autor faz sobre a “fetichização” dos artefatos, como se os objetos pertencentes a sociedades extintas tivessem vida própria e pudessem ser analisados fora do seu contexto cultural/social. O segundo,  aspecto a ser destacado é que o autor considera a Arqueologia uma linguagem, uma forma de ler o mundo, através da cultura material, assim realiza uma interseção entre a cultura material e sua relação de subjetividade com a sociedade a qual ela pertence.


[1] Mestranda em Patrimônio Cultural e Sociedade – Universidade da Região de Joinville


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